segunda-feira, 7 de maio de 2007

Chico Buarque e Fernanda Porto - A MPB dos Anos 60 e a Música Eletrônica dos Anos 2000

Chico Buarque e Fernanda Porto
- A MPB dos Anos 60 e a Música Eletrônica dos Anos 2000 -


Por Flavia Souza Lima Erthal Risi,
Juliana Souza Lima Erthal Risi e
Lucas Laender Waltenberg

Alunos do Curso de Estudos de Mídia do Instituto de Artes e Comunicação Social/UFF

Ora, me perguntas quem é Chico Buarque?

"Ora, me perguntas quem é Chico Buarque, o artista?! Direi de supetão, já que queres a resposta à vista: fantasista de truz é o que ele é.

(...) Irrealista, tu fazes-me a pergunta e ainda de mim esperas resposta?! Pois eu digo e não desdigo: numa bolsa de aposta, ele que, de um milhão a um segundo, já no segundo e seguinte segundo vale mais de quatrilhão. Sem afetação, longe de minha bajulação.

Pois é, Tamandaré, levastes um passa-pé e a maré deu marcha a ré.

E aí veio ele junto à banda.

Feito em roda de ciranda que anda-que-anda e não desanda, agora vem ele ainda mais perfumoso de lavanda, o de Hollanda.

(...) Feito um menino, lá vai ele de cantiga em cantiga, a torcer para que o siga só quem for mais forte que viga de pinho – de – riga que verga, verga e não fadiga. Vento que gira o mundo. Rosa-dos-ventos que orienta o iracundo. Roda que é viva no sonho fecundo. Rosa-de-bobo que fede feito o imundo que ergueu a construção num microssegundo, para ela tombar e revelar o submundo vagabundo desse furibundo mundo.

(...) Recorro neste momento a ti, nosso maestro Soberano. Tu que nunca me pareceste insano, nem mesmo ao nadar no profundo oceano machadiano, onde nenhum ser humano cigano ou pós-diluviano ousou pisar ou teve para tal tutano, revele a nós quem é Chico, o tal artista buarqueano. ´Sois de todo louco, desista de tal intento, pois nem se fosse aqualouco mergulharias no âmago do mago, esse detento das presas do encantamento’.

Ora, ora, e tu ainda vens e me perguntas quem é Chico Buarque, o artista?!”

Aquiles Rique Reis, músico e

integrante do MPB-4

O tal artista buarqueano:

Francisco Buarque de Hollanda, músico, cantor, compositor, dramaturgo e escritor brasileiro, nasce em 19 de junho de 1944 na cidade do Rio de Janeiro. Sua carreira musical tem uma alavanca em 64 com a participação no piloto do programa O fino da Bossa, que estrearia na Record em 65 (apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues). O fino da Bossa tem origem num show promovido por estudantes em maio de 64 (um prenúncio da chamada era dos Festivais). Em 66 divide o prêmio com Geraldo Vandré – que compôs “Disparada” - do segundo Festival da Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record, no qual disputou com a música “A banda”.

A influência mais concreta a incentivar a obra de Chico foi o LP de João Gilberto, Chega de Saudade. Desde o início de sua carreira, mescla letras de cunho crítico e/ou poéticas à melodia.

A conjuntura nacional do final da década de 60 e 70 foi um marco nas letras de Chico que, junto a Geraldo Vandré, este com a canção-hino “Caminhando”, conquistou um reconhecimento como autor de um dos hinos do movimento contra a ditadura: “Apesar de você”. Nesse período conturbado, o compositor é exilado na Itália, onde faz shows com Toquinho. Adota por um curto período, o pseudônimo Julinho da Adelaide e continua a fazer canções e parcerias. Quando retorna ao Brasil, sua carreira não abandona seu foco crítico ao contexto brasileiro, quando cria diversas músicas que marcaram uma posição contrária à política nacional – a saber, Construção, Partido alto, dentre outras. Inclusive, a música Jorge Maravilha teria um de seus versos (“você não gosta de mim, mas sua filha gosta.”) compostos após a descoberta por Chico de que a filha do presidente Geisel o admirava.

Chico Buarque representou para canção de protesto um ativista ímpar. Letras como “Meu caro amigo”, “Apesar de você”, “Deus lhe pague”, entre muitas outras, transformaram-se em referência no contexto do período. A MPB contou com Chico na composição de belas letras e numa parceria inesgotável com Tom Jobim. O teatro também foi para Chico uma forma de expressar sua inquietude. É incontestável sua participação em todo cenário político-social, sendo um dos compositores mais marcantes do ideal revolucionário.

O que se torna hoje em dia engraçado é que, embora não vivamos mais um período de repressão, as pessoas desenvolveram uma expectativa em relação às suas letras. Esperam encontrar, inclusive atualmente, a mesma produção feita nas décadas passadas, o que se torna discrepante. É muito comum ouvir “Chico não é mais o mesmo” ou ainda “A MPB mudou muito, não existem mais como eles...”. O detalhe é que não se questiona se o que eles falam é coerente com o tempo em que vivem.

No que concerne ao estilo musical, Chico se mantém liberado para incursionar em todos os ritmos e gêneros. Atravessa diversos estilos e movimentos, sem mostrar-se estanque a determinada forma. Perpassou da guitarra elétrica ao choro, à modinha, à marchinha e, preferencialmente, ao samba. Atualmente, a obra de Chico desconhece qualquer redoma estético, tornando-o livre para divagar nas diversas produções musicais.

Fernanda Porto e Drum ´n ´ bass.

Fernanda Porto lançou o primeiro CD autoral em 2002 pela gravadora Trama. Porém, antes mesmo do disco ser comercializado, a cantora e multi-instrumentista já emplacava dois hits: “Sambassim” e “Só Tinha de Ser Com Você”, música de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira. O estilo em que Fernanda se apoiou para se lançar comercialmente foi o drum´n´bass, vertente da música eletrônica que é formada por baixo de raggae inserido numa batida de hip-hop acelerada.

Antes de se chamar drum´n´bass, o estilo era chamado de jungle e começou a aparecer em 1992-93, já sendo uma cena musical formada e auto-suficiente em Londres em 1994. Usando rádios piratas como meio para divulgação, não precisou de nenhum apoio externo para se firmar. Caracterizava-se por uma euforia militante que era refletida na música agressiva e acelerada feita pelos produtores. Era uma música de resistência, que se manifestava no ritmo. É no jungle que o baixo retorna a cumprir sua função harmônica e rítmica e tem uma importância destacada ao invés de ser um simples componente. A união para a criação do ritmo se deu entre B-Boys ingleses e outros vindos da subcultura do Reggae dos anos 80, cuja política era importar “sons da rua”, integrando-os ao seu corpo musical. O nome jungle veio da Jamaica (assim como o seu sinônimo “drum and bass”) e é o estilo que reconecta o hip-hop com uma das várias fontes que contribuíram para formar o gênero, a própria Jamaica. O nome surgiu por associarem a pessoa que está na pista dançando como se estivesse numa selva (jungle) com diversos ritmos ferventes, uma sensação ao mesmo tempo excitante e assustadora. O jungle dá prioridade à batida sobre a melodia, e essa qualidade fica exagerada quando sobra apenas a bateria e o baixo (drum and bass). Em 1994, a imprensa musical, a indústria fonográfica britânica e a rádio de dance londrina KISS FM detectaram o jungle e inicialmente, o foco da abordagem consistia na parte mais visível da cena. Por conta disso, a cobertura era comumente sensacionalista, aludindo a rumores de abuso de drogas, não confirmados. Essa situação fez com que uma diversidade de artistas e selos passassem a combinar a batida hostil com uma variedade de sons mais suaves, o que acabou por dar uma amenizada na música. Essa nova fase passou a ser chamada de “ambient jungle” ou “intelligent drum´n´bass”. Produtores conseguiram mostrar que a agressividade das faixas podia ser mais “musical” sem perder as origens. Surgiu então uma divisão dentro do estilo. Enquanto um grupo de DJs e produtores, principalmente os mais novos, ainda pensavam no conceito de faixa orientadas para a pista, outros pensavam no disco fechado, em músicas que funcionavam muitas vezes melhor em casa do que nos clubes (REYNOLDS, 1998)

É nessa linha que Fernanda Porto posiciona suas composições, criando tanto para a pista, quanto para fruição caseira. O estilo foi apresentado a ela pelo DJ Xérxes de Oliveira (XRS LAND), em 1997, e desde então, deixou seu trabalho musical “tradicional” com a MPB e em trilhas sonoras cinematográficas e teatrais para flertar com a eletrônica.

O primeiro disco, intitulado “Fernanda Porto”, recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, o que contribuiu para, além de elevar o nome da cantora a uma das maiores promessas do mercado fonográfico brasileiro, colocar a música eletrônica nacional nas rádios, encabeçada por “Só Tinha de Ser Com Você”, “Sambassim” e “Tudo de Bom”, sendo tocadas também nas versões remixadas pelos DJs Patife, Xérxes de Oliveira e Marky. A aceitação foi tão grande que Fernanda chegou a entrar em trilha sonora de novela.

Em 2004, Fernanda Porto grava o segundo disco, “Giramundo”, onde procura misturar as influências eletrônicas com as acústicas, já que ela teve uma rigorosa formação erudita. “Giramundo” conta com participações do pianista e arranjador César Camargo Mariano, além de outros músicos importantes que ajudaram a firmar o nome da cantora no cenário musical brasileiro. É também nesse ano, durante a criação da trilha sonora do filme “Cabra Cega”, que ela conhece Chico Buarque e grava com o músico a versão eletrônica de “Roda Viva”. A música, que integra tanto a trilha sonora quanto o CD autoral, torna-se sucesso imediato e faz levantar diversas questões quanto à união de uma MPB tradicional representada pelo cantor/compositor Chico Buarque com uma música nacional que de certa forma se opõe a esse tradicionalismo, representado por Fernanda Porto.

Gravação de Roda Viva:


Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo (etc.)

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo (etc.)

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo (etc.)

O contexto da letra de Chico se passa em 1968, em um período de censura e repressão. Roda viva, segundo Adélia Bezerra (2004), representa mais uma espiral do que um círculo aonde as coisas vão e voltam. Esta espiral se parece mais com um furacão, que “carrega as coisas pra lá”, e se perdem.

A mistura de gerações evidenciada na gravação de “Roda Viva” por Fernanda Porto e Chico Buarque em 2004 leva a diversas questões. A que poderia ser apontada primeiramente é uma espécie de renovação da MPB. Não que integrar o drum´n´bass ao samba seja a salvação da música brasileira, mas é sim uma maneira de trazer músicas antigas, já pré-gravadas, para um contexto mais anos 2000. O caso de “Roda Viva” ainda é mais emblemático por não se tratar de um remix simplesmente, pois a cantora e produtora não usou uma música já existente e adicionou timbres, acelerou ou diminuiu o andamento, mexeu nela de qualquer maneira e sim, regravou. Além disso, deve-se destacar o fato da música ter sido emblemática no fim dos anos 60, sinalizando o período de ditadura no Brasil.

Vale destacar que a prática do remix é, além de uma das mais conhecidas dos DJs/produtores, uma forma de exercer a liberdade de criação, remodelando sons e texturas, andamento e o que mais puder ser mexido. A atividade foi popular a partir dos anos 70 com a “disco music” na intenção de adequar certas músicas para a pista de dança. De uns tempos pra cá, porém, a prática ganhou “status de atividade criativa”, de forma que se usa da música original como uma plataforma de intervenção, muitas vezes a ponto de deixar a versão primeira irreconhecível.

Porém, apesar da pré-disposição dos DJs, produtores e compositores em inovar, a mistura, da qual Fernanda Porto é adepta, é criticada por comentadores mais conservadores. A rejeição fica por conta do “sacrilégio” em misturar música eletrônica para se dançar na pista com faixas consagradas da MPB, descontextualizando-as e desfigurando os ritmos nacionais – e principalmente, cariocas – por excelência, o samba e a bossa nova. Esse tipo de crítica remete às feitas por Tinhorão quando os músicos do banquinho e violão começaram a aparecer no cenário musical brasileiro. Segundo ele, o sacrilégio consistia em misturar a pureza do samba com o jazz, que é um gênero surgido nos Estados Unidos. O crítico condenava a americanização de uma música nacional genuína e, inclusive, exagerava na sua fala, chegando a ridicularizar os cantores e compositores Jonny Alf e Tom Jobim, dentre outros, alegando que eles tinham uma espécie vergonha de sua origem brasileira, modificando seus nomes João Alfredo e Antonio Carlos Jobim, respectivamente, para uma versão americanizada.

É verdade que quando esse estilo, chamado de “samba´n´bass” ou ainda “sambass” por alguns, apareceu nas rádios e nos DJs sets causou um certo estranhamento. Era de se esperar. Mas logo o público acatou a idéia dos produtores e as músicas estouraram nos clubes, tanto brasileiros quanto europeus. Talvez pelo o fato de ter sido aceito fora do país, o público brasileiro tenha passado a olhar com mais atenção para as músicas. E, em 2004, um dos maiores compositores do país, Chico Buarque, deu o aval final para a afirmação definitiva da junção do drum´n´bass com o samba. A cantora Fernanda Porto diz que seu trabalho consiste em criar uma ponte entre gerações, e parece que o aclamado compositor comprou a idéia ao ir para estúdio depois de mais de cinco anos sem gravar para fazer uma releitura de “Roda Viva”.

A música, além de fazer parte do segundo CD autoral da cantora, “Giramundo”, e ter sido executada em diversas rádios, surgiu com o projeto da trilha sonora do filme “Cabra Cega” de Toni Venturi, thriller político que se passa em 1971 e aborda a relação tensa entre os jovens Tiago e Rosa, militantes de luta armada que tentam fazer acontecer o projeto revolucionário de derrocada da ditadura. O diretor deu liberdade a Fernanda Porto para compor um cd autoral com releitura de músicas da época e produções da própria musicista. Além de “Roda Viva”, na trilha também aparecem com outras roupagens, não necessariamente eletrônicas, as músicas “Rosa dos Ventos” e “Construção”, também de Chico Buarque, “Saveiros”, de Nelson Motta e Dory Caymmi, “Sinal Fechado”, de Paulinho da Viola e “Teletema”, de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar.

A cantora, diz que desde o início não sentiu muita resistência quanto a sua proposta musical. Pelo contrário, é comum, por exemplo, ouvir agradecimento de pais por ela apresentar Chico Buarque a seus filhos. Fica, portanto, clara a ponte que essa vertente bem específica e brasileira do drum´n´bass estabelece entre gerações. A musicista consegue trazer à tona novamente músicas dos anos 60 e recontextualizá-las para um outro ambiente qualquer; nesse caso, o das pistas de dança.

Ao mesmo tempo que a aproximação de Chico e a nova versão gravada com Fernanda proporciona uma renovação da MPB instituição anos 70, cria também um clima de resistência aos que defendem a não hibridização dos gêneros musicais. É fato também que, a participação do Chico na gravação traz a idéia de uma versão autorizada, onde estaria sendo reconhecido o valor da união estética, posto que o aval concedido em 2004 revela o desejo do autor em promover tal mistura. E se é essa a vontade do próprio autor, com que crédito os críticos se oporiam à gravação? Neste sentido as críticas são amenizadas.

Além de tudo, a oposição à junção alega um esvaziamento do conteúdo da letra, transformando um dos marcos de um ideal revolucionário em música feita pra dançar.

Contudo, a regravação de Fernanda Porto não significa descontextualizá-la, até porque, se assim o fosse, nem o próprio Chico poderia voltar a cantá-la, porém, como disse Gilberto Gil, ele se torna portador de um tempo: “Chico Buarque de Hollanda tem exercido o poder constituinte em minha geração. O poder de constituir-se portador da marca do seu tempo. Uma geração é um símbolo biológico e, se cumpre o designo de constituir-se como marca de uma época é também um ciclo histórico”. Neste sentido não se pode desconsiderar o contexto atual, tampouco arquivar uma produção resignando-a exclusivamente ao seu tempo. Não só as gerações se conectam como também os estilos o fazem. Portanto, Fernanda Porto se torna também portadora de um estilo contextualizado, sendo marca de uma época que, assim como o fez a MPB ao longo de sua história, não se desfaz do passado.

“(...) Ao longo dos seus 60 anos – 40 deles, pelo menos, de vida publicada – Chico tem exercido, ou melhor, exercitado, o poder constituinte através das formas a um só tempo eternas e renováveis de criação artística. Em tudo, da exaltação da música e da poesia à emoção do combate cívico; da embriaguez pelo elixir da paixão ao sorver sóbrio da inteligência e da sensibilidade. Em tudo, Chico Buarque tem sido levado a fazer-se fonte, a tornar-se ponte, a seguir-se em caminhos por onde trilham gerações como a minha, a nossa, rumo aos livros de história”.

Gilberto Gil, contra capa do livro Chico Buarque do Brasil:

Chico Buarque, constituinte.


Bibliografia

FERNANDES, Rinaldo (org.) – Chico Buarque do Brasil. Rio de Janeiro, Garamond, Fundação Biblioteca Nacional, 2004

REYNOLDS, Simon - Generation Ecstasy: into the world of techno and rave culture Routledge, EUA.1999

SÁ, Simone Pereira de – Música eletrônica e tecnologia: reconfigurando a discotecagem. In: Lemos e Cunha (orgs) . Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre, Sulinas, 2003

Sites

www.fernandaporto.com.br

Discografia

Fernanda Porto, Giramundo (2004)

Trilha Sonora do Filme Cabra Cega (2005)

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